O que é o Chi Kung
É Chi Kung ou Qi Gong?
Na antiga tradução conhecida como sistema Wade-Giles, escrevia-se Ch’i Kung. Como este sistema não funcionava para a maioria das traduções e para se conseguir um sistema mais uniformizado, foi criado o sistema Pinyin que utiliza as letras do latim em vez dos caracteres chineses. Passou então a escrever-se Qi Gong, mas a pronunciação da palavra mantém-se a mesma. Continuamos a dizer Chi Kung.
As palavras Qi e Gong, o que significam?
Qi significa energia e Gong significa trabalho ou estudo.
O Qi é a energia que anima todos os seres vivos, é o que nos permite respirar, movimentar, crescer, amadurecer, envelhecer e todos os processos inerentes à vida. Tudo tem Qi e é feito de Qi. Os planetas, as estrelas, as árvores, as flores e os animais têm qi. É a matéria principal do universo e é o que flui em nós ao longo de toda a nossa vida.
Uma pessoa saudável normalmente tem mais Qi do que uma que está doente, no entanto, ter saúde vai além de ter abundância de Qi, pois ter saúde implica que a energia no corpo seja límpida e que o seu fluxo através dos meridianos, tecidos e órgãos, se faça com harmonia e sem estagnações ou bloqueios.
Nós criamos bloqueios e estagnações com pensamentos que vão contra nós e nos prejudicam, pois eles são a origem de emoções negativas que impedem a nossa paz mental e criam tensões no corpo. Também os excessos alimentares, a má nutrição ou o sedentarismo são prejudicais pois impedem que o sangue, a energia e os nutrientes necessários à vida e ao bem estar, circulem livremente por todo o organismo.
Passear na natureza aumenta e purifica o nosso qi. Respirar ar puro, abrir o coração à beleza que nos rodeia, apreciar tudo com amor sabendo que a energia que flui nos animais, nas árvores, nas montanhas ou nos rios, é a mesma que flui em nós, faz milagres pelo nosso corpo e pela nossa mente. É uma ligação de amor puro que vai até à alma e nos preenche de paz e gratidão pela vida.
Gong é estudo ou trabalho. É o benefício adquirido através da prática e da persistência. Assim, praticar Qi Gong significa trabalhar com a energia da vida. Aprender a controlar o fluxo e a distribuição de Qi no corpo, de forma a melhorar a saúde, harmonizar a mente e todo o organismo.
Qi Gong é no fundo uma forma de exercício físico. Compõe-se de movimentos lentos e suaves que trabalham todos os músculos e articulações. É uma prática com milhares de anos que tem estado sempre em evolução e que inclui: posturas meditativas, exercício físico, automassagem, técnicas de respiração, visualização e concentração.
Através dos vários métodos utilizados pelo Chi Kung, o Qi límpido (energia pura) é acumulado e armazenado no corpo. O Qi impuro ou poluído é purificado e transformado, de forma a aumentar a resistência às agressões externas, prevenindo o surgimento da doença.
O objectivo de algumas práticas é libertar e eliminar esse qi poluído, muitas vezes chamado de energia perversa. Para entender melhor, podemos olhar para a respiração – na inspiração é absorvida energia pura e oxigénio, na expiração é libertado o dióxido de carbono poluído. Tal como uma respiração adequada melhora essas trocas, com o Qi Gong as trocas de energia pura ou impura tornam-se mais eficientes.
Apesar de o Chi Kung ser essencialmente uma forma terapêutica de manter e melhorar a saúde, quando é prescrito por um médico (na China) não é visto como um tratamento mas sim como treino ou prática. Isto porque, um tratamento é para ser feito durante um período limitado de tempo e a prática do Chi Kung, é diária e ao longo de toda a vida.
Isso é fácil de fazer e manter, porque o qi gong é agradável de praticar e não requer grande despesa de tempo ou dinheiro. Os alunos geralmente praticam uma média de 20 a 40 minutos por dia, não havendo necessidade de equipamento especial ou um grande espaço de treino.
Qualquer pessoa pode praticar Qi Gong. Existem técnicas adequadas a todas as idades e condições físicas. O Qi Gong inclui métodos de pé, sentado e deitado. Com apenas pequenos ajustes, os exercícios que normalmente se fazem de pé podem ser feitos numa posição sentada ou deitada. Isto oferece a oportunidade a pessoas com mobilidade reduzida ou algum nível de incapacidade física, de praticarem uma actividade física com regularidade e em segurança, no conforto das suas casas.
As categorias do Qi Gong
Os exercícios dividem-se em duas categorias:
Dong Gong
Qi Gong dinâmico, onde o corpo inteiro se move suavemente de um exercício para outro, como se realizasse uma dança. Os movimentos são coordenados com a respiração, procura-se a descontração do corpo e um estado mental calmo e concentrado. Este é o tipo de Qi Gong mais popular, tanto na China como no Ocidente. Externamente o corpo está em movimento, mas internamente a mente está tranquila e em paz.
Jing Gong
Qi Gong estático, onde o corpo está parado numa dada posição. O Qi é controlado através da concentração mental, visualização e métodos específicos de respiração. Este Qi Gong externamente é tranquilo, e quem olha de fora acha que realmente não está a acontecer nada pois o corpo está parado. A realidade interna é totalmente diferente, tudo está em actividade.
Apesar do corpo estar quieto, a mente está bem alerta prestando atenção ao que se passa tanto no interior do corpo, como no ambiente externo ao redor: a mente está atenta aos ruídos próximos e distantes, temperatura do ar e todos os outros factores externos que surgem. Internamente ela observa os movimentos da respiração, todas as pequenas sensações nas várias partes do corpo, tensões musculares, pensamentos que chegam e vão embora, e também, com a prática – ao fluxo de Qi. No fundo, este é um Qi Gong estático só aparentemente, pois lá dentro acontecem muitas coisas.
Resumindo, Qi Gong dinâmico é exercício físico e Qi Gong estático é meditação. Os dois são complementares, pois quando há muito movimento sem repouso esgotamos a nossa energia. Por outro lado, quando há muito repouso sem movimento o corpo fica entorpecido e enfraquece.
Utilizações do Qi Gong
Saúde – Qi Gong Terapêutico
A razão mais importante para a sua prática é ajudar a prevenir doenças e a melhorar a saúde.
Muitos médicos na China prescrevem, além dos medicamentos, exercícios de Qi Gong para que o paciente recupere mais rapidamente e adquira as competências necessárias para cuidar da sua própria saúde.
O Qi Gong terapêutico leva em consideração as funções dos meridianos, da energia vital (Qi), do espírito (emoções), dos líquidos orgânicos, circulação sanguínea e funcionamento dos órgãos. Alguns métodos são específicos para tratar determinadas doenças, outros são aplicados de acordo com o estado de saúde da pessoa.
Meditação – Espiritualidade
No Qi Gong meditativo ou espiritual (Jing Gong – o corpo parado), o estudante foca-se em desenvolver um estado mental claro e tranquilo, para um maior autoconhecimento e uma consciência de si próprio mais profunda e em harmonia com a natureza.
O Qi Gong meditativo é muitas vezes dividido em três escolas: Taoísta, Budista e Confucionista.
Budismo e Taoísmo
O Qi Gong Taoísta está ligado à medicina tradicional chinesa. Tem como principal objectivo controlar as emoções e cultivar – Os Três Tesouros da Vida – Jing (essência), Qi (energia vital) e Shen (espírito) – de forma a aumentar e conservar a essência ou energia original. Foca-se também nos mistérios da vida humana e a sua relação com a natureza.
O Qi Gong Budista foca-se no vazio. A sua prática conduz à purificação do coração, para alcançar a sua pureza original e dissipar todas as ilusões criadas pelo espírito, atingindo assim o estado de alegria interno.
Apesar destas diferenças, a distinção entre as duas escolas é um pouco vaga, sendo que ao longo da história se foram influenciando mutuamente.
O mesmo acontece com o Qi Gong terapêutico. Os praticantes de Qi Gong meditativo e terapêutico partilham um objectivo comum, cultivar o corpo e o espírito. Como a mente e o corpo se influenciam mutuamente, é impossível ter um corpo realmente sadio sem uma mente saudável ou vice versa. Por isso, normalmente as posturas estáticas (meditativas) são executadas como complemento aos exercícios dinâmicos do Qi Gong terapêutico.
Confucionismo
O Qi Gong Confucionista tem como objectivo melhorar o carácter. Deixar a vida correr como um rio e afastar todas as ideias negativas, para que se cultive uma energia pura e sã. Confúcio ensinou a importância de um comportamento ético e de relações interpessoais harmoniosas.
No Qi Gong é dada ênfase à crença tradicional Chinesa de que se um indivíduo for saudável, é mais provável que apresente um comportamento íntegro.
Se cuidares de ti, estás mais inclinado a cuidar dos outros. Se pelo contrário abusas de ti, muito provavelmente irás abusar dos outros.
O Qi Gong Confucionista é mais uma orientação do que propriamente uma escola, os praticantes confucionistas treinam as mesmas técnicas que os de outras escolas, o seu objectivo porém, baseia-se no cultivo do carácter, na benevolência, na sinceridade, no respeito e outras virtudes.
Artes Marciais
O Qi Gong marcial refere-se às artes marciais Chinesas – Wushu – Apesar do treino se basear em exercícios de Qi Gong que melhoram a capacidade de ataque e defesa, as suas técnicas podem melhorar também o desempenho em outras actividades desportivas.
O treino dá bastante ênfase à parte energética do corpo, fortalece ossos, músculos e tendões. O objectivo é fortalecer o corpo e sobretudo aumentar a resistência às agressões exteriores, sejam elas golpes (das artes marciais) ou doenças.
Nos Negócios
Nos dias de hoje começam a surgir novas utilizações para o Qi Gong. No mercado de trabalho, muitas empresas começam a promover o Qi Gong para os colaboradores, de forma a reduzir os níveis de stress, manter uma saúde equilibrada e aumentar a produtividade.
De acordo com os testemunhos de quadros elevados de grandes empresas como a Sony ou a Sega, a prática de 20 minutos por dia melhora o foco e a concentração, isto ajuda na produtividade e nas negociações, ajudando a tomar decisões mais acertadas e concisas.
O Qi Gong também acalma a mente e melhora a qualidade do sono, o que resulta em níveis de energia mais elevados e melhor disposição para as relações interpessoais.
Paz Interior
Desde os tempos primitivos que os seres humanos estão sujeitos a variadas formas de stress, que enfraquecem e causam desgaste no corpo. O stress sempre fez parte da vida e a evolução e desenvolvimento, simplesmente alteraram os factores.
O homem primitivo tinha stress por falta de comida ou abrigo, estava vulnerável às mudanças do tempo, doenças, incapacidade física, etc. A sociedade de hoje tem outras preocupações e apesar da abundância de produtos e serviços, sofre de níveis de stress excessivos e até destrutivos.
Hoje em dia as causas de stress são imensas: a hipoteca da casa, prestação do carro, ter boas notas na escola, as relações entre patrões e colaboradores, a economia nacional e mundial, a política, a religião, o dia que só tem 24 horas e não chega, a falta de sono e descanso, os excessos alimentares, o novo Covid… Juntando tudo isto às alterações climáticas, poluição das águas e solos, alimentação pobre em nutrientes e o ruído constante, o estado das coisas não é agradável.
Apesar de nos termos habituado a todos estes factores e a esta forma de viver, a realidade é que esses factores influenciam bastante a nossa saúde física e mental.
O stress cria tensão na mente e no corpo. Quando não conseguimos alterar as nossas circunstâncias, temos tendência a interiorizar a nossa frustração, o que se irá manifestar como tensão muscular. Essa tensão vai criar bloqueios e estagnações de energia no corpo impedindo o fluxo de Qi. Deixam de se fazer as trocas necessárias, o Qi puro não entra livremente e o tóxico não é purificado ou libertado. Isto pode levar ao surgimento da dor ou de doenças.
Está provado por diversos estudos e pesquisas científicas, que altos níveis de stress contribuem para a hipertensão arterial, enxaquecas, problemas digestivos, artrite, problemas de coração, cancro e doenças respiratórias.
É evidente que muitos dos stresses a que estamos sujeitos estão fora do nosso controlo, mas se não conseguimos controlar o ambiente externo, é imperativo que façamos um esforço para controlar e manter a saúde do nosso ambiente interno. Se não conseguimos mudar ou afastar-nos de uma situação stressante, ao menos que consigamos controlar a nossa forma de reagir a ela.
O Qi Gong, é um sistema de treino específico para o equilíbrio físico e psicológico. Ensina-nos a lidar de forma inteligente com o stress, mantendo o corpo relaxado e a nossa energia interna forte e saudável.
Além disso, desenvolve a nossa capacidade de equilibrar a saúde e de regular o fluxo da energia curativa no corpo e na mente.
As coisas até podem estar complicadas e difíceis lá fora, mas podemos fazer muito para criar paz e tranquilidade cá dentro.
Conclusão
Todas as utilizações do Qi Gong estão ligadas entre si. Uma mente saudável cria um corpo saudável e vice versa. Boa saúde dá a força necessária para as artes marciais ou outra actividade desportiva e pode diminuir a gravidade das lesões. As artes marciais ensinam uma boa postura, corrigem a respiração e melhoram a saúde. Uma mente clara e calma, juntamente com um corpo forte, dão auto confiança, auto controle e um comportamento mais ético. Além disso, uma boa saúde física e mental ajuda a atingir as metas, sejam elas: sociais, profissionais, espirituais ou financeiras.
Qualquer técnica de Qi Gong pode ser utilizada para uma variedade de objectivos, dependendo da intenção de cada um. Uma pessoa pode praticar para tratar a hipertensão arterial, enquanto outra pode querer emagrecer. Outra pessoa pode usar os mesmos exercícios para fortalecer o corpo ou para aumentar a sua ligação com Deus.
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